segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A vida é uma constante perda. (Análise Life Is Strange)


Enfim consegui terminar Life is Strange, após muito tempo esperando o lançamento do último episódio, finalmente consegui jogar, ver como chega ao fim a jornada de Max e Chloe, como tudo voltaria ao seu lugar após todas as descobertas e conseqüência dos seus atos ao final dos outros quatro episódios, mas não é sobre o final em específico que vou escrever hoje.

Para aquelas quatro pessoas que não sabem o que é Life is Strange ou que não dão nenhuma foda pra o jogo porque acham que é coisa de hipster (o que cês tão fazendo por aqui? Vão jogar CoD enquanto batem uma punhetinha, seus escrotos), LiS é um jogo de interactive drama, ou seja, um filme interativo em que você fará as escolhas do personagem principal e essas escolhas acarretarão em consequências para o futuro da sua aventura. Já que esse tipo de jogo tem como enfoque uma narrativa, geralmente a história é bem detalhada e os personagens são mais humanizados possíveis.

A história do jogo segue a vida de Max Caulfield, uma moça de 18 anos que volta a sua cidade natal após muito tempo para poder estudar na Blackwell Academy, uma escola especializada em ciências e artes. Ela acaba descobrindo que tem o poder de voltar no tempo e acaba tendo uma visão da cidade sendo destruída por um tornado, com isso a história segue na tentativa da moça de descobrir como impedir esse tornado e se reunindo com uma velha amiga, Chloe Price, que está em busca da verdade por trás do desaparecimento de uma das alunas de Blackwell, Rachel Amber. Exatamente, neste jogo você terá o poder de voltar no tempo, por isso sempre que se arrepender de uma decisão ou não conseguir continuar o diálogo com alguém, você simplesmente pode voltar e mandar a resposta correta ou a que você acha que terá um desenrolar melhor para a história.

Aparentemente essa é a festa com o maior número de gêmeos reunidos

O jogo explora de uma maneira maravilhosa a amizade e os dramas adolescentes, o que sempre dá um tom emotivo para a narrativa e quanto mais você adentra a história, mais as emoções tomam conta e tudo isso já no segundo capítulo. Você sempre irá pensar bastante em como as decisões irão repercutir ao seu redor e não como irão afetar o fim do jogo, o que em minha opinião é algo excelente.

Já a gameplay é bem simples, você anda pelo cenário, interage com alguns objetos, alguns deles podem acarretar em algumas mudanças nos detalhes das relações que cercam a Max, outros são apenas notas mentais e outros são fotos que são colecionadas e servem como objetivos secundários que nos garantem algumas conquistas em qualquer que seja a plataforma que você esteja jogando. Entretanto, existe uma certa parte no último capítulo que a gameplay fugiu desse padrão, nessa parte, o jogo acabou tentando adaptar um stealth, porém acabou falhando, pois em dados momentos, você acabava sendo descoberta mesmo relativamente atrás da parede, inclusive eu passei deste momento numa gambiarra de voltas no tempo, fora isso, a gameplay foi bastante satisfatória.

A trilha sonora composta basicamente por músicas indie rock e folk são uma bela adição para a história, deixando o jogador bem imerso, seja com Alt-J tocando no início da manhã enquanto a Max se arruma para ir a aula, seja com Syd Matters tocando ao fundo enquanto você caminha sem rumo pelo corredor indo até o banheiro no início do primeiro capítulo, sempre existe alguma música que se encaixa bem nos momentos do jogo. Aliás, deixarei aqui a minha música favorita da trilha sonora, ela acabou marcando a minha aventura pelo jogo graças ao final do segundo capítulo, quem jogou sabe do que estou falando.

Se você não se tornar hipster depois de jogar isso, nada mais o tornará

Agora falemos dos personagens, pois eles que fazem dessa história aquilo que ela realmente é. Comecemos por um detalhe importante: Quase todos os personagens têm algo que os torne incrivelmente intragáveis, mas o melhor de tudo isso é que mesmo assim as pessoas simpatizam com eles, pois todo mundo tem algo que faz de si mesmo uma pessoa intragável e esse toque de realidade faz com que alguns desses personagens se tornem memoráveis.

A primeira personagem da listinha é a Max Caulfield, a moça que interpretamos ao jogar, sinceramente ela é extremamente sem graça, porém tem um bom coração e isso conta bastante. Nas primeiras horas de jogo eu fiquei com uma impressão de que ela é o equivalente do mundo dos games à Bella Swan, mas fico com uma impressão de que eu estivesse errado. Ela é uma moça tímida que adora fotografia e sonha em se tornar uma artista reconhecida um dia. Sempre observando mais o mundo do que participando dele, ela acaba sendo meio que afastada pelos outros estudantes de Blackwell.

A segunda protagonista é Chloe Price, uma garota rebelde, teimosa e com um arquétipo punk rock. Ela é considerada uma má influência pra Max e é uma personagem 50/50, mas o que significa isso? Bem, muita gente a odeia e muita gente a ama, no meu caso, gosto bastante dela, apesar de em certos pontos da história ter ficado com uma antipatia, mas o caso é, ela tem essa personalidade rebelde e teimosa por conta das perdas que teve durante sua vida. Logo quando criança ela perdeu o pai em um acidente de carro, logo depois perdeu sua melhor amiga, a Max, que teve de se mudar para Seattle com a família, algum tempo depois, a mãe dela casa-se com David Madsen; que com certeza não é o homem mais equilibrado do universo; e ainda perdeu a sua nova melhor amiga, Rachel Amber. Tudo isso contribuiu para que Chloe se tornasse o que vemos hoje em dia, uma mulher com problemas de confiança, abandono e raiva. Por isso, sempre a vemos reclamando com Max sobre como ela a abandonou e nunca se comunicou, até entendo isso, mas às vezes Chloe nos leva em algumas aventuras suicidas e isso faz com que muitas pessoas a odeiem.

E finalmente chegamos a um dos dois personagens que eu não consegui odiar em nenhum momento do jogo: Warren Graham. Ele é o típico geek que adora animes e filmes undergrounds, ama ciências, tímido ao expressar sentimentos e que sempre acaba rejeitado pela garota que gosta. Agora vocês sabem por que eu não o odiei, ele é praticamente eu, a diferença é que eu não entendo porras de ciências e passo a maior parte do meu tempo com músicas e jogos, mas estou divagando demais, além disso tudo, ele também lhe salva algumas vezes no jogo e te ajuda na investigação.
E agora vamos à parte mais odiosa do jogo, Victoria Chase. Puta merda, como eu odeio essa menina. Primeiramente, ela é o estereótipo de pessoa nojentinha e rica que pisa em todos, mas que tem uma legião de seguidores e seguidoras que fazem o que ela manda para ganharem status social. Ela odeia a Max, espalha o vídeo da Kate, entre outras coisas, mas o jogador tem a opção de ser gentil com ela e talvez assim ela escute a voz da razão, mas já que eu sou um exímio cuzão e babaca eu sacaneei ela no mesmo nível. Eu não me orgulho muito disso, mas estava com raiva no momento. Entretanto existe um momento do jogo que faz com que a Victoria se arrependa do que fez, após o episódio 2 e durante o episódio 3, a depender das suas escolhas, a Victoria irá se arrepender de ser desgraçada com a Kate, mas isso é o máximo que vocês ouvirão.

E por falar em Kate, vamos falar dela. A moça triste que vive chorando pelos cantos e é escrotizada por todos no jogo, exceto você. Ela é uma moça extremamente religiosa e por alguma razão nos Estados Unidos esse pessoal é que é oprimido, ou só nesse jogo. Enfim, ela era uma garota extremamente gentil e amável, que se tornou depressiva graças a um vídeo vazado dela em uma festa do Vortex Club. O jogo não deixa claro o conteúdo do vídeo, mas claramente era algo sexual e para piorar a situação da moça, ela acabou sendo drogada, o que resultou no tal vídeo. Ironicamente, achei a Kate a melhor personagem do jogo, ela não reclama exageradamente que nem a Chloe, não é uma grande desgraçada como todos os outros, ela só é uma menina normal que queria seguir sua vida de uma maneira calma, mas que foi arrastada em um turbilhão de caos e merda que é a elite social de Blackwell. Assim como várias outras moças da vida real, ela sofre por causa da covardia de algumas pessoas que acham divertido espalhar fotos ou vídeos íntimos das pessoas e depois as chamarem de vagabundas ou algo do gênero, como se a culpa dos conteúdos terem sido vazados fossem delas. Mas quem sou eu pra questionar os métodos de “justiça” que as pessoas de “bem” propõem? Sigamos em frente.

Por fim, temos Nathan Prescott, o riquinho rico, aquele garoto irritante e mimado que tem tudo o que quer e se acha superior por ser rico, todo mundo conhece um filho da puta desses. Ele se acha o artista dark conceitual, assim como acha que é dono de Arcadia Bay e que manda em todo mundo. Infelizmente o pai dele manda em tudo, então ele pode fazer o que quiser sem levantar suspeitas ou alguém dar uma mínima foda, o que te fará odiá-lo o jogo inteiro, ou não, se você for um puta de um babaca, mas convenhamos, essa galera vai estar ocupada demais trepando do que jogando um jogo de hipster dos games.

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De repente não me sinto tão satisfeito ao fazer esse review, mas vida que segue.
Por fim temos a desaparecida, porém extremamente vital pro enredo, Rachel Amber. Ela está em todos os cantos, quase todos os diálogos, mas você nunca a vê no jogo. Ela é a causa de tudo que ocorre na história, assim como a Chloe. O que se sabe sobre ela é meio incerto, mas o que dá para se notar é que ela é adorada por todos da cidade, o que me faz pensar que ela era muito gente boa. Ela tinha uma relação muito próxima de amizade com a Chloe, o que faz com que todos pensem que elas tivessem sido um casal, pois obviamente ninguém pode ter uma amizade forte e bem próxima sem querer roçar uma genital na outra.

O jogo te ensina bastante sobre o futuro

Com isso, irei agora falar do último episódio, o famigerado final.

Sinceramente, o último episódio serviu mais para ser um flashback de tudo que ocorreu de importante no jogo e lhe mostrar o caos que as viagens no tempo da Max criaram no fluxo temporal. Essas realidades alternativas as quais a Max acaba viajando são todas distorcidas, quebradas, assim como o espírito dela após tudo o que ela presenciou durante todos esses episódios. Vimos mensagens de culpa vindas de diversos personagens na história, mas na verdade tudo isso vem da insegurança que a Max, assistimos de um outro ponto de vista um certo momento do jogo, vimos o que aconteceria se a Max tivesse levado a foto pro concurso e afins, tudo isso sem perder o clima emocional pesado, infelizmente um pouco do clímax foi perdido em uma sequência de jogabilidade stealth bem quebrada.
E finalmente chegamos a conclusão do episódio, neste exato ponto da review terei de abrir mão e contar spoilers da cena final, que vocês provavelmente já devem ter visto em vídeo.

SPOILER ALERT





Então, primeiro, a sacada do tornado que irá destruir a cidade ser causado pelas múltiplas tentativas da Max de mudar o futuro foi simplesmente genial. Segundo, a última decisão do jogo apesar de caber na história e te fazer pensar por várias horas é algo muito bom e creio que combina com o jogo, mas infelizmente eu me senti bastante decepcionado, pois isso faz com que todo o esforço que você teve durante a jogatina tenha sido em vão. Lembram quando lançaram Mass Effect 3 e que os finais ignoravam todos os sacrifícios que você fez pra salvar a vida das pessoas na galáxia? É mais ou menos a mesma coisa, só que em uma escala menor de matança e maior de sentimentos.

Digo, decidir entre deixar sua melhor amiga morrer ali na sua frente e você não fazer nada pra impedir só porque irá destruir toda uma cidade e seus habitantes é um fardo extremamente pesado para uma garota de apenas 18 anos, parafraseando Family Guy, ninguém merece ter de passar pela experiência de enterrar uma pessoa importante, principalmente tão jovem, infelizmente na vida somos todos perdedores e foi isso que aprendi com o final de Life is Strange. Não importa o quanto você tente mudar o seu destino ou salvar o mundo, você ainda assim acabará perdendo muitas pessoas ou coisas importantes para si mesmo e ainda assim provavelmente não irá conseguir salvar a todos.

O jogo pode ter tido falhas, mas o seu conteúdo e narrativa acabaram o tornando extremamente ótimo, com momentos em que eu nunca senti ao jogar algum telejogo eletrônico, este provavelmente foi o melhor jogo que tive a oportunidade de jogar em 2015.

Nota: 8/10

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